vezes em vão
Havia vezes em que sim, que falava demais. Vezes sem conta dizias que falava vezes demais. Às vezes, dizias que existiam verdades de vezes que não se diziam e muitas das vezes pedias que me calasse. Outras vezes dizias que não me querias ouvir, que não entendias do que te falava, às vezes, quando falava a uma velocidade alucinante. Nunca dizias, mas pensavas. Tantas vezes. Eu sabia, sentia-o e era pior do que te ter ouvido dizê-lo uma única vez. Vezes sem conta usavas os teus truques para que contivesse as minhas palavras. Quantas foram as vezes que me fizeste rir, para agasalhar as coisas que sabias que queria dizer, só quando não me querias ouvir. Foram muitas as vezes em que me ocupaste o tempo, e o espaço também, só para perder as ideias que queria dividir. Mas, vezes atrás de vezes nunca não falei. Partilhava o que sentia às vezes, o que não sentia e o que às vezes gostava de sentir. Falava-te do tempo, da falta de tempo e do mau tempo. Falava-te das coisas cor-de-rosa e das que às vezes perdiam a cor. Falava-te de princesas. Falava-te de coisas que sabia que, na grande parte das vezes, não te interessavam. Falava porque me apetecia. Falava das vezes más e das vezes boas. Falava só por falar. Falava só para que, pelo menos naquela vez, os teus olhos se prendessem aos meus. Falava só para te mostrar a altivez que tinha ser percebida por ti. No fundo, falava para tentar que as minhas palavras ao invadirem os teus ouvidos levassem partes de mim a arriscarem acomodar-se na moradia no teu coração. Vezes sem conta, em vão. Mas um dia, do teu lado de dentro, por mais ínfima que tenha sido, sei que terá havido uma vez em que a falta da minha voz te ensurdeceu. E dessa vez, a minha voz já não contou. Agora, nesta vez que é a que conta, há outra voz que toma conta.
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