terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mais Uma Vez

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”, já dizia Fernando Pessoa. Adaptada frequentemente (que é como quem diz vezes sem conta) por todos para “Vale s-e-m-p-re a pena quando a alma não é pequena.”, continuará ainda assim verdadeiramente com sentido? A esta inofensiva troca popular das sábias palavras do supra-citado senhor resultarão inúmeras adaptações a inúmeras situações. Fará sentido que se insista em repetir determinadas vezes que, ou culminaram num tufão de emoções que assolou tudo por onde passou, ou que nem sequer tenham trazido uma lufada de ar fresco que tenha valido o esforço? Valerá sempre a pena? Valerá vezes sem conta a pena pela mesma coisa?

Logicamente pensando, depois de fazermos uma encomenda, não voltamos a fazê-la. Esperamos que chegue. Porquê? Porque não vale a pena fazer outra vez uma vez (na normalidade da prestação de serviços) que já está feita. Não querendo dizer com isto que o certo será ficarmos sentadinhos no banco de jardim todos os finais de tarde à espera que de uma rajada nos cheguem os nossos sonhos, não será tão pouco insistindo que eles se tornarão na nossa realidade pretendida. Assim, talvez pense que não vale sempre a pena mas que, de facto, t-u-d-o vale a pena. Porque tudo não é a mesma coisa que sempre. Tudo, sendo a totalidade das coisas existentes, não significará a durabilidade eterna. Porque tudo é quantidade e sempre é tempo. E o tempo arde. A prova é que todos temos uma vida que se apressa a furtar-nos todos os segundos que nos fazem sorrir e tarda em deixar perdurar todos os minutos que nos fazem chorar. Atendamos então ao que grandes nomes nos quiseram deixar de tempos mais inflexíveis porque, neste caso, quando a alma não é pequena, tudo vale mesmo a pena! Valerá mais uma vez a pena?


terça-feira, 17 de agosto de 2010

E não, à terceira nem sempre é de vez.

COMEÇA. Diria que, muitas das vezes em que é suposto aprendermos certas coisas com aquelas vezes que por algum motivo nos marcam, pois, em grande parte delas, não aprendemos assim tanto. Sabemos desde muito cedo que, em vez alguma, pessoa alguma suporta viver sem carinho. Ainda assim, insistimos em querer guardar (quase) tudo para nós mesmos. Damos, de vez em quando, mas na maior parte das vezes é comum preferir-se o receber em vez do dar. O problema é que, quem dá também precisa de receber. Sabemos também desde muito cedo que as emoções existem para ser não só vividas como também exprimidas. E na mala já levamos o carinho. Agora, escondemos também lá dentro o que nos vai na alma. Não demonstramos o que nos toca, e é simples, ao albergarmos tudo em nós, de uma vez só deitamos tudo por terra. ACABA.

COMEÇA. Já com a bagagem (mais) cheia, tentamos outra vez. Pelos trilhos traçados, corremos atrás do que ainda nos move. Do que nunca deixou de nos mover, pelo menos do lado de dentro. Com todas as armas preparamo-nos então para mais uma vez, para mais uma batalha. Sabemos, de antemão, que daquela vez temos mesmo que trocar o receber pelo dar. Damos, Trocamos, Recebemos. Sofremos. Perdemos. Damos, Trocamos, Recebemos. Voltamos e Recebemos vezes sem conta. Olhamos à volta e tudo arde. O fumo encobre o caminho e sem forças, por uma vez respirar um ar que nada dava, nada trazia, é quando naquele momento acabo por cair. Fico sem chão. Segues, tens coragem. Aguentas, lutas. Ao meu lado, tiras o pouco que tens para te proteger a ti e colocas-me sobre os ombros. Abraças-me. Devolves-me o chão. Não damos. Sem armas, tu dás. Dás. Recebo. Recebo. Não troco. Dás. Chamas-me. Arrastas-me. Passadas palavras, trocadas encruzilhadas, choradas lágrimas. Cais. Sabemos desde muito cedo que, em vez alguma, pessoa alguma suporta viver sem (r-e-c-e-b-e-r) carinho. ACABA.

ACABA. E não, não haverá uma terceira vez. Porque não são precisas Vezes 100 Conta. Duas vezes são demais para vermos voar (e não voltar) um grande e sincero amor depois de cuidarmos dele com todas as nossas forças.

domingo, 15 de agosto de 2010

A Segunda Vez

Dizem, por aí, que a segunda vez corre sempre melhor que a primeira e que daí para a frente é sempre a subir. Assim o espero. Cheiros. Não é a segunda vez, mas mais uma das vezes sem conta que este aroma toma conta. Perfume. Passamos muitas vezes por vezes em que tão bruscamente, pequenas e inocentes lembranças nos alimentam a mente. Cheiros. Há vezes em que expressões coniventes irreflectidamente falam por si. Mas os cheiros também falam muitas vezes. Disso, ninguém tenha dúvidas. Toda a gente já sentiu vezes sem conta cheiros que se aliam intensamente a vezes que nos invadem por dentro. Que nos esmagam as entranhas. Porque os cheiros têm sabor. Têm cor. Porque quantas são as vezes (muitas vezes) que os cheiros nos trazem nomes de pessoas e de lugares. Cheiros. Cheiros que nos despertam sentimentos e nos reavivam momentos. Este cheiro, que ainda é o teu cheiro, trará vezes atrás de vezes, para sempre, visões alargadas do que te tornaste no espaço revolto em que se tornou o meu coração. Este cheiro, que me fará repetidamente, inúmeras vezes viver os nossos instantes perdidos, mas nunca esquecidos, como se fosse a primeira vez. Este cheiro, que desta vez guardo como uma ferida que insiste em arder sem que água alguma o faça render. Este, que ainda é o teu cheiro, desordena todos os compassos que me regem, ainda tão cheios de ti. E desta vez, vou acomodar este cheiro, para que estando perto, não me esteja tão longe. É nestas vezes, vezes sem conta, que trememos por dentro e por fora. Por quem vezes sem conta respiramos profundamente para que as estúpidas e apressadas lágrimas voltem outra vez ao seu lugar. E porque nem sempre à segunda sai uma vez definitiva e feliz, tentar-se-á muito provavelmente a terceira. Fica para já guardada a segunda vez, de Vezes 100 Conta.