“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”, já dizia Fernando Pessoa. Adaptada frequentemente (que é como quem diz vezes sem conta) por todos para “Vale s-e-m-p-re a pena quando a alma não é pequena.”, continuará ainda assim verdadeiramente com sentido? A esta inofensiva troca popular das sábias palavras do supra-citado senhor resultarão inúmeras adaptações a inúmeras situações. Fará sentido que se insista em repetir determinadas vezes que, ou culminaram num tufão de emoções que assolou tudo por onde passou, ou que nem sequer tenham trazido uma lufada de ar fresco que tenha valido o esforço? Valerá sempre a pena? Valerá vezes sem conta a pena pela mesma coisa?
Logicamente pensando, depois de fazermos uma encomenda, não voltamos a fazê-la. Esperamos que chegue. Porquê? Porque não vale a pena fazer outra vez uma vez (na normalidade da prestação de serviços) que já está feita. Não querendo dizer com isto que o certo será ficarmos sentadinhos no banco de jardim todos os finais de tarde à espera que de uma rajada nos cheguem os nossos sonhos, não será tão pouco insistindo que eles se tornarão na nossa realidade pretendida. Assim, talvez pense que não vale sempre a pena mas que, de facto, t-u-d-o vale a pena. Porque tudo não é a mesma coisa que sempre. Tudo, sendo a totalidade das coisas existentes, não significará a durabilidade eterna. Porque tudo é quantidade e sempre é tempo. E o tempo arde. A prova é que todos temos uma vida que se apressa a furtar-nos todos os segundos que nos fazem sorrir e tarda em deixar perdurar todos os minutos que nos fazem chorar. Atendamos então ao que grandes nomes nos quiseram deixar de tempos mais inflexíveis porque, neste caso, quando a alma não é pequena, tudo vale mesmo a pena! Valerá mais uma vez a pena?